Leia mais:
Vinhos vulcânicos são aqueles produzidos a partir de uvas cultivadas em solos de origem vulcânica. Esses solos são ricos em minerais como potássio, magnésio, ferro e cálcio, mas curiosamente são pouco férteis, o que faz com que as vinhas sofram um pouco mais para sobreviver. E isso, na linguagem do vinho, costuma ser uma ótima notícia: gera uvas mais concentradas e cheias de personalidade.
As características típicas dos vinhos vulcânicos incluem alta acidez, sabores minerais - muitas vezes descritos como salgados ou "pedregosos" - e um perfil mais sério, com menos expressão de fruta e mais rusticidade. Como definiu o master sommelier canadense John Szabo, autor do livro Volcanic Wines: Salt, Grit and Power, são vinhos que desafiam os sentidos. E encantam quem está disposto a escutar o que o solo tem a dizer.
Neste mês de Maio, estive na Sicília, na Itália, para o Sicília en Primeur 2025, evento que reúne especialistas e jornalistas do mundo todo para degustar os novos lançamentos das principais regiões vinícolas da ilha. A Sicília é hoje um dos grandes destinos do mundo para quem busca vinhos de solo vulcânico. E o melhor exemplo disso, sem dúvida, é o Etna, vulcão mais ativo da Europa, e de onde saem alguns dos vinhos mais expressivos da região.
A região é conhecida internacionalmente por uvas como Nero d'Avola e Grillo, mas visitar o terroir do Etna é como entrar em uma escola viva de vinhos.
Com vinhedos plantados em encostas de até 1.000 metros de altitude, abriga um dos solos mais extremos e fascinantes do mundo do vinho. A atividade vulcânica é constante, e não raro as vinícolas publicam em suas redes sociais imagens dos vinhos com lavas ao fundo. Pode parecer apenas marketing, mas não é: a cinza que cobre as folhas, as altitudes elevadas e a mineralidade do solo influenciam diretamente o perfil aromático dos vinhos.
A grande protagonista dos tintos do Etna é a Nerello Mascalese – uva autóctone, que tem um perfil de cor e taninos que pode lembrar vagamente a Nebbiolo. Seus vinhos costumam ter cor mais clara, taninos firmes, boa acidez e complexidade aromática que mistura frutas vermelhas frescas, especiarias e uma mineralidade marcante. Já os brancos da região, como os Etna Bianco, costumam ser produzidos com Carricante (e, em menor proporção, Catarratto), entregando frescor, salinidade e notas de frutas cítricas.
Durante minha visita, conheci vinícolas que são verdadeiras guardiãs dessa viticultura de altitude. A I Custodi delle Vigne dell’Etna aposta em métodos tradicionais e vinhedos antigos, plantados sobretudo no norte do Etna, considerado o mais nobre para a produção de vinhos tintos. É possível conciliar com uma visita à PietraDolce, que fica localizada praticamente em frente. Essa é uma das vinícolas mais prestigiadas da região e se destaca por unir vinhos que seguem filosofia de mínima intervenção e instalações artísticas que reproduzem a identidade e terroir do Etna. Para quem busca nomes mais conhecidos e com boa estrutura para receber visitantes, a Planeta também tem um belo projeto na região.
Mesmo que você ainda não possa caminhar pelos vinhedos vulcânicos da Sicília, a boa notícia é que diversos rótulos da região do Etna já estão disponíveis no Brasil. Procure por nomes como Etna Rosso DOC ou Etna Bianco DOC, de produtores como Donnafugata, PietraDolce, Planeta, entre outros. Uma taça de Nerello Mascalese pode ser o primeiro o para se apaixonar pelo Etna — mesmo do lado de cá do Atlântico.
*Os textos publicados pelos Insiders e Colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do CNN Viagem & Gastronomia.
Pri Matta é jornalista, especialista em vinhos e curadora do perfil @deondevinho no Instagram, comunidade que conecta mais de 400 mil apaixonados pela bebida. Com mais de 10 anos de experiência nas áreas de Marca e Marketing, ela criou não apenas o canal, mas também o curso Desfirulando o Vinho, que ensina o básico sobre o universo do vinho de forma leve, descontraída e ível - aproximando ainda mais pessoas desse universo.