Mas o que significa esse termo? Refere-se aos destinos que recebem mais pessoas do que a própria infraestrutura a. Isso causa insatisfação nos moradores devido ao aumento do barulho, lixo, tráfego e preços em regiões turísticas e, por consequência, da inflação imobiliária.

Perturbações do gênero se intensificaram há pouco mais de duas décadas. A criação de plataformas de aluguel por temporada e as redes sociais, que aumentam o desejo dos viajantes de conhecer destinos virais, foram essenciais para a intensificação do turismo, segundo especialistas ouvidos pela CNN Viagem & Gastronomia.

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O papel dos influenciadores também se tornou crucial para o avanço do turismo excessivo em diversas áreas do mundo — inclusive, do Brasil. "Esses influencers acabam levando muita gente para alguns lugares que não têm infraestrutura para receber", pontua a pesquisadora Tatiana Marodin, doutora no tema pela Universidade de Caxias do Sul.

A Espanha, o segundo país mais visitado no mundo, segundo dados da Organização Mundial de Turismo (OMT) de 2022, é um exemplo de como o excesso de pessoas gera insatisfação na população local. Na tentativa de conter a situação, o governo anunciou um bloqueio de 65 mil anúncios de Airbnb recentemente.

Outros países também adotaram medidas contra o excesso de turismo: o Japão, que recebeu 36,86 milhões de viajantes do mundo todo e bateu recorde de visitas em 2024, conforme a Organização Nacional de Turismo do Japão (JNTO), criou uma taxa para escalar o muito procurado Monte Fuji. A Itália, por sua vez, aumentou o número de dias do ano em que viajantes ficam sujeitos a tarifa de visitação em Veneza. Esses são apenas alguns exemplos.

Para escalar Monte Fuji, turistas devem pagar taxa  • Unsplash/Tommy Silver
Para escalar Monte Fuji, turistas devem pagar taxa  • Unsplash/Tommy Silver

Aluguel por temporada x inflação imobiliária

O principal desafio é a inflação imobiliária, segundo especialistas ouvidos pela reportagem. As plataformas de aluguel por temporada impulsionam o aumento dos preços de imóveis que antes eram usados por moradores, mas agora são destinados a turistas.

"Isso causa um impacto na relação entre oferta e procura: houve aumento da procura e redução da oferta", explica Edegar Tomazzoni, professor do curso de Turismo na Universidade de São Paulo (USP).

Essa inflação expulsa os moradores de zonas onde gostariam de viver e gera um "efeito cascata", diz Tatiana Marodin. "Há aumento no preço dos imóveis, alimentos, custo de vida e a pessoa perde o poder de compra", completa.

E qual é a causa dessa inflação além da disseminação das plataformas de aluguel? Os especialistas apontam a ausência de regulamentação e políticas públicas desse mercado, que controlaria a transformação do setor mundialmente.

E os hotéis?

Os especialistas divergem com relação aos impactos dos aplicativos de aluguel no setor hoteleiro. No Brasil, a indústria da hotelaria costuma criticar essas plataformas, segundo Felipe Tavares, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

"Os aplicativos de aluguel dinamizam a atividade econômica, criam novas e outras formas de oferta desses imóveis e uma competição [no mercado]", diz Felipe.

Nos aluguéis por temporada, há uma concorrência forte e preços melhores em comparação aos dos hotéis. "Isso coloca uma pressão para [o setor hoteleiro] aumentar a qualidade do serviço, diminuir o preço e tentar reconquistar aquele consumidor", pontua Tavares.

Tomazzoni, por outro lado, relembra que turistas começaram a usar imóveis antes destinados a moradores. Essa transformação no mercado força a mudança de antigos habitantes para outras regiões, destaca o professor e Tatiana Marodin.

"É claro que quanto maior a concorrência, maior a vantagem para o consumidor e, no caso, para o turista", afirma Tomazzoni. "Mas é preciso pensar na situação geral e sistêmica".

A pesquisadora também ressalta a importância dos hotéis nas economias mundiais. "Hotel gera mão de obra, emprego, faz circular a economia com compras de mercadoria e restaurante, e são mais fiscalizados.”

E o que deve ser feito? Para Tavares, o governo não precisa tomar medida para restringir o número de viajantes se a região "tiver vocação natural" para o turismo, mas deve colocar regras para as visitas não causarem danos ao meio ambiente.

"[É preciso] dar infraestrutura adequada e regras para o turismo ser desenvolvido em parâmetros positivos", afirma Tavares.

Já Tomazzoni e Tatiana dizem que os governos devem intervir na regulamentação das plataformas de aluguel, como fizeram a Espanha, Japão e Itália, citados na reportagem.

 

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