Turismo de aventura: como perder o medo e desbravar a natureza?

Setor registrou aumento de 47% nas vendas em um ano, segundo levantamento realizado pela agência Paytour

Gabriela Pivado Viagem & Gastronomia

O turismo de aventura — ou de natureza, como especialistas ouvidos pelo CNN Viagem&Gastronomia preferem chamar — tem crescido nos últimos anos. O setor registrou um aumento de 47% nas vendas em um ano, segundo levantamento realizado pela agência Paytour e divulgado em 2025.

E o Brasil foi eleito o melhor país do mundo para turismo de aventura, conforme o portal US News & World Report, no ano ado. Entre os critérios avaliados, o estudo considerou a qualidade dos destinos, a segurança para realizar esportes radicais, a infraestrutura turística e experiências marcantes na natureza.

Mas o que caracteriza o turismo de aventura? Segundo Pedro Coelho, sócio-fundador da agência Borealis Expedições, a prática abrange “desde atividades intensas, como expedições a regiões remotas do Ártico no extremo inverno, até experiências mais leves, como caminhadas em cenários impressionantes no verão”.

Apesar do crescimento no setor, ainda há mitos que regem o turismo de natureza e geram insegurança em quem quer experimentar esse tipo de viagem. Como perder esse medo?

O empresário João Ricardo Marincek, também conhecido como Jota, fundador da agência Venturas, especializada nesse tipo de turismo, disse que o primeiro o é ter vontade de se aventurar.

“Tudo parte da pessoa e, se ela resolve que vai fazer, precisa procurar uma empresa ou equipe que possa transmitir segurança”, pontuou ao CNN Viagem&Gastronomia.

Preferindo o termo “turismo de natureza“, o empresário afirma que aventura é uma experiência relativa — para algumas pessoas, uma trilha pode ser um grande desafio; para outras, nem tanto.

Para quem quer começar a viajar pela natureza, o ideal seria informar-se sobre a atividade que pretende fazer e pesquisar empresas especializadas. O público iniciante costuma apostar em caminhadas curtas até cachoeiras, ou até uma praia, para se habituar a fim de realizar o famoso trekking — a prática de caminhar durante o dia e pernoitar no local.

João Ricardo também diz para não se preocupar com a ansiedade e o cansaço que pode ocorrer durante os eios. Afinal, o guia especializado é preparado para lidar com todos os tipos de grupos e perfis.

“Essa pessoa vai te orientar, dizer como você deve caminhar, a hora de descansar e vai lidar com essa ansiedade que a gente acaba levando para a natureza”, completou.

A natureza, inclusive, tem o próprio ritmo e pode ajudar a reduzir a ansiedade, sendo um dos benefícios que esse tipo de turismo pode trazer ao viajante, diz ele. Estudos e especialistas da área relatam os mesmos benefícios com uma simples caminhada ao ar livre.

“Usamos muito uma frase: ‘Quem manda é a maré’. Então, se a maré está contrária, tem que esperar a maré abaixar. Não adianta querer se impor contra a natureza“, falou João Ricardo.

Para o empresário, o melhor é “ir com medo mesmo” e, durante a atividade, o público vai perdendo essa insegurança. Ele destaca: “Um bom guia e instrutor faz toda a diferença na experiência da viagem e da atividade”.

Mas é preciso estar com um bom condicionamento físico para se aventurar? Segundo Coelho, a prática diária de atividade física pode ser um diferencial em certos programas, mas ele garante que “a preparação adequada e a escolha de um roteiro compatível com o perfil do viajante são fatores ainda mais importantes”.

ibilidade e turismo na terceira idade

Apesar do crescimento do turismo de aventura, o setor ainda enfrenta estigmas de que esse tipo de viagem caberia só aos jovens ou a pessoas atléticas. Pedro Coelho descarta essa ideia e afirma que o ecoturismo é “muito mais inclusivo do que as pessoas imaginam”.

“Cada vez mais viajantes acima dos 60 anos estão explorando destinos remotos, incluindo regiões polares, trilhas icônicas e experiências em contato com a natureza, desafiando limites e vivendo aventuras memoráveis”, contou.

Um exemplo disso é o brasileiro e arquiteto aposentado Lauro Andrade, 80, que já fez mais de 20 viagens a lugares extremos para fotografar desde vulcões ativos até ursos no norte do Alasca, nos Estados Unidos.

“Viajar me faz sentir mais jovem e com vontade de fazer a próxima viagem. Gosto muito de viver”, disse ele ao CNN Viagem&Gastronomia.

Joca também presenciou cenas semelhantes. Ele relembra de uma mulher, de cerca de 65 anos, que tinha receio de praticar turismo de aventura, mas se arriscou com trilhas e visitas às cachoeiras — o resultado o impressionou.

“A medida que a semana foi ando, veio uma energia vital tremenda a partir dessa percepção de que ela era capaz e que eram atividades incríveis para ela”, comentou o empresário da agência Venturas sobre o efeito do turismo de aventura no bem-estar das pessoas.

Outros pacotes, por exemplo, são desenhados para pessoas com deficiência física, como cadeirantes. Para criar esses roteiros, Pedro Coelho diz que as agências de turismo precisam:

  • Trabalhar com parceiros especializados em logística para cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida;
  • Personalizar roteiros, ajustar transportes, hospedagem e atividades para garantir conforto e segurança;
  • Oferecer experiências privativas, permitindo um ritmo adequado e acompanhamento especializado.

Para os especialistas, então, o turismo de aventura — ou de natureza — é ível a todos os públicos. O essencial para iniciar a prática é escolher uma boa agência de viagem, guias qualificados e começar aos poucos. O medo, por sua vez, vai ficando pelo caminho.

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